Estranho como uma simples fotografia pode trazer à lembrança tantas coisas. Olhar para os teus olhos e lembrar todos os momentos que tive, num passado que deixou de existir há tão pouco tempo, mas que para alguns, parece uma eternidade. Quando ainda podia mandar no tempo, quando parava o relógio e nada mais existia para além de nós. Era tudo tão mais simples quando pensava com a cabeça e não sentia com o coração. Cada um fazia a sua vida e não havia o receio de nos magoar a outra face, agora também é assim, mas fica sempre a expectativa de um fazer e o outro criticar, porque no fim de contas, saiu magoado. Mas fazer o quê? Pedir explicações a quem? Não tenho qualquer direito de impor seja o que for e não me parece que isso fosse solução para o que quer que seja… Uma vez disseram-me “falas, falas, falas, mas quando dás por ti estás atolada até à cabeça”, e não é que no exacto momento em que estava a ouvir estas palavras, me lembrei de como antes tudo era tão exterior, de tudo acontecer e nada se passar e de agora, por mais mínimas que sejam as circunstancias, tudo é tão complicado, pelo menos para mim que estou quieta e imóvel, não por querer mas sim por não ter capacidade de reagir face a certos acontecimentos. Por vezes queria não ter que me lembrar tantas vezes, queria não pensar tantas vezes, queria não ter que fazer contas para ver quando será a próxima vez, por vezes queria não ter que desejar poder voltar a descer a rua e bater à porta… Por vezes queria que tudo voltasse a ser como antes, que estivesses aqui a minutos de mim, que a qualquer momento te pudesse descobrir, como em tantas vezes te encontrei numa rua, numa esquina, num corredor e sorria apenas, pensando “onde é que eu ando com a cabeça?”… Queria entender o porquê de teres aparecido na minha vida, sim, porque até hoje e passado tanto tempo, ainda não consegui encontrar resposta… Queria perceber porque é que me doeu tanto a tua partida e porque é que continua a doer a tua ausência. De tudo aquilo que passei contigo, marca-me um episódio, que espero que não seja nem de longe nem de perto um dos últimos, que ainda hoje mexe muito comigo! Milhões de gente numa praça cheia de ninguém, uma única certeza, saber que te ia reencontrar depois de tanto tempo e até com palavras proferidas e decisões que, julgava eu que fossem inflexíveis. Palpitações enormes num peito pequeno demais para tantas expectativas, e já as vozes ecoavam, eis que me aproximava do fim da praça, quando de repente, algo me reconfortava a alma, não sei dizer porque, mas já os meus olhos te tinham notado, e qual o meu espanto, quando sinto que também os teus, encontravam os meus. Por momentos, nada mais existiu para além de nós, a alguns metros apenas depois de tantos quilómetros. Ali estava eu, a olhar serenamente… Deu-me vontade de te correr para os braços, mas não, senti-me apenas feliz por comprovar que estavas bem, pelo menos aparentemente. Ainda hoje me pergunto, porque é que numa praça cheia de gente, eu te fui encontrar lá bem ao fundo e não vi mais ninguém, e porque é que ainda eu não te tinha visto, já tu estavas a olhar para mim… O verdadeiro sentido da frase “o que interessa não é ter muitos amigos, o que interessa é ter um em quem realmente confiar e acreditar”. Fascina-me lembrar-me desta noite.
Quem me haveria de dizer que uma praça cheia de nada me faria voltar a acreditar?
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